VALE A PENA INVESTIR EM HOSPITAIS?

Para responder a esta pergunta, o correto seria recorrer ao filósofo Adam Smith com a lei da oferta e procura – afinal, a procura por serviços de saúde é caracterizada por ótimos cenários: aumento da expectativa de vida, aumento da parcela de idosos na população brasileira (segundo o IBGE a faixa da população com mais de 60 anos de idade sairá dos atuais 13% para 26% em 2050), enquanto que na oferta, temos uma queda de nossa densidade de leitos por 1.000 habitantes (que já estava ruim), além da enorme dependência pelos leitos privados por parte do Estado. Diante deste quadro resta alguma dúvida de que o cenário é positivo?
Mas a questão não é simples assim, pois infelizmente o consumidor (responsável pela procura) não é o responsável por pagar a conta – e isto muda tudo. O cenário dos pagadores de contas não é o mais favorável – o SUS banca os custos hospitalares com valores ínfimos que, boa parte das vezes, não repõem os custos, os próprios pacientes não conseguem autofinanciar o custos com a alta complexidade e as operadoras privadas de planos de saúde convivem com um cenário de inflação médica nas alturas, onde nos últimos dez anos diminuiu o número de operadoras de planos de saúde de 1.400 para 930 e o número de beneficiários que caiu de 50 milhões para 47,4 em três anos de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Quem vai na contramão desta questão, são as operadoras NOTREDAME e HAPVIDA que optando pela verticalização, segundo reportagem a revista EXAME (edição 1167 de 08/08/18), tiveram crescimento de faturamento de 18% e 23% no período de janeiro-março de 2017, respectivamente. Mas é sempre bom ressaltar que são operadoras que possuem redes próprias de hospitais… E falando em rede própria de hospitais, vale somar a este time a AMIL, que está relacionada entre as 50 “Maiores Empresas Privadas” em vendas na edição de EXAME de “Melhores & Maiores” de 2018. Nestes casos, estas operadoras saem do perfil de “financiadoras” para o perfil de “concorrentes”, visto que elas contratam hospitais somente naquelas cidades em que não possuem muitos usuários, pois caso contrário entram com estrutura própria.
Mas voltando ao nosso foco, da análise do mercado hospitalar privado no Brasil, temos o “RELATÓRIO DA SITUAÇÃO DOS HOSPITAIS PRIVADOS NO BRASIL”, publicado em maio de 2018 pela FBH (Federação Brasileira de Hospitais) e pela CNSaúde (Confederação Nacional da Saúde). Trata-se de um importante levantamento baseado nos dados coletados no período entre 2010 a 2018 pela ANS – Agência Nacional de Saúde, do CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde e do MS – Ministério da Saúde, DATASUS. Este estudo (disponibilizado no link http://fbh.com.br/wp-content/uploads/2018/07/Relatorio-FBH-CNS_web.pdf) aponta que entre os anos de 2010 e 2018, o número total de hospitais no Brasil sofreu decréscimo, pequeno e inconstante, indo de 6.907 para 6.820 hospitais em todo o território nacional (uma variação de apenas -1,3%), no entanto, neste período, houve a redução apenas de hospitais privados (430 hospitais ou -8,9%), enquanto que houve o aumento de hospitais públicos (343 hospitais ou +16,5%). Entre os hospitais privados, houve redução de 341 unidades com fins lucrativos (ou -11,8%) e redução de 89 sem fins lucrativos (ou -4,6%). O estudo traz outros dados por nº de leitos, por região geográfica, por especialidades, enfim, apresentando um cenário que demonstra pequena retração.
E assim completamos nosso cenário: excelentes perspectivas de procura, oferta exígua e escassa, mas com problemas em quem-paga-a-conta…