O Futuro dos Planos de Saúde: Uma Crise Profunda
A confiança na segurança dos planos de saúde complementares está desmoronando diante de uma realidade assustadora. Esses planos enfrentam uma crise profunda, e não há sinal de recuperação à vista. As operadoras continuam sob uma pressão implacável, com a sinistralidade do setor alcançando impressionantes 87,9% no último semestre. Isso significa que, a cada R$ 100 em receitas provenientes das mensalidades, R$ 88 são direcionados para cobrir despesas médicas.
Apesar de um recorde de 50,8 milhões de beneficiários, conforme os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as operadoras acumularam um prejuízo operacional de R$ 8,2 bilhões nos últimos 12 meses até junho.
Na tentativa desesperada de equilibrar suas finanças, os planos de saúde têm reduzido suas redes credenciadas, esticado ao máximo os reembolsos e os prazos de atendimento, e, em alguns casos, cancelado contratos de adesão coletiva. Como consequência, as queixas dos clientes dispararam. Dados do TJ-SP revelam que, apenas nos cinco primeiros meses deste ano, um processo contra um plano de saúde foi aberto na Justiça a cada 25 minutos.
O descompasso entre receitas e despesas continua a crescer, à medida que um grande número de beneficiários busca exames clínicos e cirurgias eletivas adiadas durante a pandemia. Além disso, os custos de insumos médicos e farmacêuticos aumentaram, a lista de procedimentos obrigatórios foi expandida e os gastos com reembolsos e fraudes estão em ascensão.
A crise também está afetando os hospitais, que relatam atrasos nos pagamentos por serviços já prestados, totalizando pelo menos R$ 2,3 bilhões em débitos.
Diante desse cenário caótico, qual é o caminho a seguir? Rogério Scarabel, advogado e ex-presidente da ANS, destaca a necessidade de uma transformação radical nos modelos de atuação das operadoras de saúde. Ele enfatiza a importância de priorizar a medicina preventiva em vez de focar apenas nas situações de urgência.
Além disso, Eric Brasil, diretor de planejamento e sócio da Tendências Consultoria, alerta que a modernização deve ir além. Ele afirma: “A regulação atual só agrava esses problemas temporários, concentrando-se apenas na expansão da cobertura básica e no controle dos aumentos de preços.”
Não apenas por essas razões, mas também porque a restrição do acesso das classes médias aos planos de saúde pressionará ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS), o governo federal deve prestar atenção a essa situação e buscar soluções urgentes. Quanto mais difícil se tornar o acesso aos planos de saúde, maior será a pressão e os custos sobre o SUS, afetando diretamente a saúde de todos os brasileiros. É hora de agir antes que a crise se torne insustentável.